O governo do Maranhão está cauteloso, mas conta com o início da construção de uma usina de aços longos no Estado no primeiro semestre do próximo ano
O empreendimento chinês que deve consumir numa primeira etapa 3,5 bilhões de dólares de investimento. O projeto da China Brazil Xinnenghuan International Investment (CBSteel) foi anunciado nesta sexta-feira pelo ministro de Relações Exteriores, José Serra, que participa da viagem do presidente Michel Temer ao país asiático.
Segundo o secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Maranhão, Simplício Araújo, o projeto envolve uma usina siderúrgica que produzirá fio máquina numa primeira fase e vergalhões, numa segunda, com investimento total de 8 bilhões de dólares. A usina deve ser instalada na cidade de Bacabeira, a mesma que no início de 2015 viu a Petrobras anunciar o cancelamento de um projeto bilionário de construção de uma refinaria Premium.
“O investimento da primeira fase (da usina siderúrgica) seria de 3,5 bilhões de dólares e o da segunda etapa outros 4,5 bilhões, quando a usina chegaria a uma capacidade de cerca de 10 milhões de toneladas por ano”, disse Araújo, em entrevista à Reuters. A primeira fase teria capacidade para 3 milhões de toneladas anuais.
Mas após o trauma do cancelamento da construção da refinaria, após o escândalo da Lava Jato, o governo do Estado está seguindo com cautela para que o investimento prometido pela CBSteel se concretize, disse o secretário.
“O Maranhão já sofreu muito com grandes anúncios de empreendimentos que não se concretizaram e já deixamos essa preocupação clara para os chineses”, disse Araújo, que afirmou que o compromisso do Estado com a CBSteel inclui o terreno do empreendimento, de 2 mil hectares, e 95 por cento de isenção de ICMS por 10 anos que poderão ser renovados por mais 10.
Não foi possível obter contato com representantes da CBSteel no Brasil para comentários sobre o projeto.
As tratativas estão acontecendo em um momento em que o setor siderúrgico brasileiro vive um quadro de excesso de capacidade, em meio à forte queda na demanda interna gerada pela recessão, que derrubou o consumo de veículos, máquinas e equipamentos e do setor de construção civil.
Segundo o Instituto Aço Brasil (IABr), que representa os maiores produtores da liga no país, a utilização da capacidade instalada do setor atingiu em julho o menor nível da série histórica, cerca de 77 por cento. O setor acumula queda de 12 por cento na produção de janeiro a julho, enquanto as vendas têm baixa de 14 por cento.
Se confirmado o investimento chinês em Bacabeira, a usina iria iniciar atividade após a abertura neste ano da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará. O projeto de 3 milhões de toneladas e iniciado em 2007, contou com investimento de 5,4 bilhões de dólares e tem a mineradora Vale como um dos principais acionistas ao lado das sul-coreanas Dongkuk e Posco.
Questionado sobre a viabilidade do projeto, Araújo comentou que a usina é um empreendimento de longo prazo e que deve levar cerca de oito anos para ficar pronta. Ele também comentou que o projeto terá como vantagem a previsão de utilização de reservas de gás no próprio Maranhão para a produção de aço. O plano recebeu impulso após leilão realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em abril, disse o secretário.
Além disso, a usina estaria numa espécie de entroncamento logístico formado pela ferrovia de Carajás, que a Vale usa para exportar minério de ferro, e o projeto da ferrovia Norte e Sul. “Carajás vai trazer minério e a Norte Sul levaria os produtos siderúrgicos pelo Maranhão para Tocantins, Goiás, Bahia e Mato Grosso”, disse Araújo.
Segundo ele, o investimento previsto para a primeira fase da usina é todo da CBSteel, mas a companhia estaria “negociando com a Vale e a Vale talvez entre com uma parcela na sociedade”.
Procurada, a Vale informou que existe um Memorando de Entendimentos com a CBSteel visando a celebração de contrato de fornecimento de minério para o projeto e nada além disso.
Os 3,5 bilhões de dólares previstos incluem além da primeira fase da usina um porto privado e uma “smart city” que abrigará os trabalhadores da obra e os futuros funcionários da planta, disse o secretário.
Fonte – BVMI – Licio Melo – Alberto Alerigi Jr./Reuters