Com dívida de cerca de R$ 2 bilhões, o Grupo Aço Cearense acaba de entrar com pedido de recuperação judicial. Líder na região Norte e Nordeste, a companhia sofreu com a derrocada da economia nos últimos anos. A consultoria X Infinity Invest trabalhou com a empresa ao longo do último mês, antes do pedido de recuperação, que foi feito na noite de quinta-feira pelo escritório Nunes D’Alvia & Notari.
Na lista dos principais credores estão BTG Pactual, Santander, Banco do Nordeste, Bradesco e Itaú Unibanco, com quase R$ 900 milhões. Os cinco maiores credores já foram contatados, conforme Fábio de Aguiar, presidente da X Infinity, e a sinalização foi positiva. A empresa, que é geradora de caixa, espera que o processo seja o mais rápido possível.
Segundo Licio Melo, especialista em vendas industriais, estamos diante de um clássico erro que enfatiza a clara omissão na estratégia e gestão comercial industrial. Segundo ele trabalhar apenas com capacidade produtiva em detrimento da inteligência comercial e ações pró-ativas resultam neste tipo de armadilha, investe-se milhões em diversas áreas e a mais importante que é a comercial fica em segundo plano.
Licio afirma que a produção brasileira de aço bruto deve fechar o ano 7,6% menor do que em 2015, totalizando 30,7 milhões de toneladas e classifica também outros fatores como a falta de ações para a melhora na exportação que continua caindo. Analisando o investimento direto das companhias de aço em seus departamentos comerciais é possível descobrir o motivo destes resultados pífios. No acumulado de janeiro a novembro, houve queda de 0,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. A previsão é fechar o ano com 13,2 milhões de toneladas de aço brasileiro exportado e receita de US$ 5,5 bilhões.
O especialista enfatiza que agindo e vendendo da mesma forma a décadas esse mercado não verá resultados positivos tão cedo e lembra também as afirmações do presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter sobre sua própria empresa. Segundo André o desempenho de sua companhia no período se deveu ao “momento desafiador” pelo qual passa o setor siderúrgico em todo o mundo concluindo com uma informação que resume um pouco a realidade atual:
“Se destacam excesso de capacidade instalada e práticas de comércio desleais”
Licio Melo conclui que em nenhum momento os gestores industriais dão ênfase a questões referentes a reformulação de seu processo de gestão comercial. Por isso serão eternos reféns de bancos (que de acordo com ele nada produzem), benesses governamentais, alíquotas e políticas não muito claras e cheias de segundas intenções. Ele afirma que este ciclo está em processo de extinção, que acontecerá em conjunto com as empresas que não entenderem isso a tempo.
O pedido de recuperação judicial do Grupo Aço Cearense resulta, segundo o presidente da companhia, Vilmar Ferreira, da aposta que a empresa fez, em 2002, no crescimento da economia, se endividando para investir. A mudança no câmbio e na taxa de juros fez com que a dívida da siderúrgica dobrasse em três anos, relata.
Vilmar afirma ainda que, o setor passa por uma crise e que, a despeito disso, a Aço Cearense vem mostrando melhoria “significativa” em faturamento e lucratividade. “No entanto, mesmo com resultados positivos, nos últimos meses a empresa tem encontrado dificuldades para ajustar sua estrutura de capital dentro desse cenário econômico adverso”.
Por isso, segue, “foi indispensável buscar uma recuperação judicial diferenciada, preventiva e responsável, tendo como premissa a manutenção da saúde financeira e operacional das empresas do Grupo”.
Com 37 anos, a Aço Cearense tem 3.800 colaboradores e uma carteira de 22 mil clientes ativos no País. É líder regional do setor, com capacidade produtiva de 1.000.000 t/ano de aço e um faturamento de R$ 2,5 bilhões em 2015. A perspectiva para faturamento em 2016 era de R$ 1,9 bilhão e R$ 2,4 bilhões em 2016.
O Grupo possui cinco unidades, sendo duas no Ceará: Aço Cearense Comercial (CE), Aço Cearense Industrial (CE), Sinobras Siderúrgica (PA), Sinobras Florestal (TO) e Instituto Aço Cearense (CE/PA/TO).
Fonte – BVMI