Após primeiro ano de adaptação no controle da empresa brasileira de energia, chinesa quer desenvolver novos negócios
Prestes a completar um ano sob o controle chinês, a CPFL Energia está pronta para dar novos passos. A partir de agora, a companhia vai focar seus esforços no desenvolvimento de novos negócios e na compra de ativos no setor elétrico.
A previsão é desembolsar R$ 10 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos. Esse montante inclui a expansão nos setores tradicionais do grupo, como distribuição, geração e transmissão, além de projetos de tecnologia para ganhar mais eficiência na operação.
O anúncio da compra da CPFL Energia pela chinesa State Grid foi feito em julho de 2016, mas o negócio – da ordem de R$ 40 bilhões – só foi concluído em janeiro de 2017.
Desde então, a sede da empresa em Campinas experimenta uma mistura entre o estilo mais despojado do brasileiro e o formalismo do chinês. Eles são poucos na companhia, mas têm um papel fundamental na integração com o comando na China. No total, cerca de 20 chineses acompanham a rotina diária dos executivos brasileiros.
Alguns gostam de chamá-los de “sombra”, mas o presidente da CPFL Energia, André Dorf, não aprova essa nomenclatura. Segundo ele, os executivos estão aqui para acompanhar e entender a operação brasileira. Apesar do abismo entre as duas culturas, a convivência parece estar indo bem, com agrados de ambos os lados. Enquanto os chineses adotam nomes ocidentais para facilitar a conversa no dia a dia, os brasileiros até arriscam algumas expressões em chinês.
A integração tem sido incentivada também por meio de intercâmbio entre brasileiros que vão conhecer as operação da State Grid na China e de delegações do país asiático nos negócios na CPFL. Em novembro, por exemplo, a reunião do Conselho de Administração da empresa – agora formado por quatro chineses e três brasileiros – ocorreu em Pequim. O evento deu a oportunidade aos conselheiros nacionais de conhecerem a gigante chinesa, que atende cerca de 1 bilhão de consumidores.
Segundo ele, embora tenha havido uma guinada radical no controle da empresa (a State Grid tem 94,8% de participação), a gestão continua igual. Evidentemente que todas as decisões e aprovação do plano de negócios da companhia precisam ter o aval da China. Mas, para Dorf, isso não representa um problema. Exemplo disso, é o forte apetite em participar da consolidação que o setor elétrico já começa a viver.
Até o terceiro trimestre de 2017, a empresa faturou R$ 11 bilhões, valor 50% superior ao de igual período do ano anterior. O desempenho deveu-se especialmente à incorporação da AES Sul (agora RGR Sul) no balanço da companhia e do aumento das receitas com comercialização de energia – área que tem tido expressivo avanço nos últimos anos.
“Acreditamos que a CPFL vá se beneficiar do fato de pertencer a um dos maiores grupos de energia elétrica do mundo, tanto operacional como financeiramente”, escreveu a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, que na semana passada reafirmou o rating do grupo (hoje limitado pelo rating soberano do Brasil).
Dorf também acredita nessa premissa. “Começamos com distribuição, equilibramos com a geração nos anos 2000 e criamos a Renováveis nesta década. Daqui pra frente, a transformação do grupo tem a ver com a tecnologia e novos modelos de negócios.” E, nessa área de tecnologia, a ideia é pegar carona na experiência chinesa e adotar mecanismos já consolidados na empresa asiática.
Automação.
Para o executivo da CPFL Energia, o Brasil ainda está um passo atrás nesse quesito. O País, na avaliação dele, tem chance de automatizar uma série de operações no setor elétrico para melhorar a eficiência. Um exemplo seriam as operações remotas. Ou seja, conseguir resolver desligamentos a partir de uma central sem ter de deslocar equipes.
Nos últimos meses, a empresa lançou uma série de iniciativas para apoiar a inovação em áreas como o armazenamento de energia (baterias), geração distribuída solar e veículo elétrico. Os medidores eletrônicos também são uma prioridade para a empresa. “Nessa área, no entanto, precisamos de regulação para poder investir e não termos prejuízos.”
Fonte – BVMI – Renée Pereira/OESP
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