A Mangels Industrial S.A., fabricante brasileira de rodas de alumínio para o setor automotivo, botijões GLP e de produtos de aço para veículos e eletrodomésticos, saiu do processo de recuperação judicial. Apesar do cenário econômico adverso, a empresa fechou o terceiro trimestre de 2016 acumulando um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 23,9 milhões, com alta de 132% no comparativo anual.
O resultado, mesmo num ano de crise, foi possível, destaca a direção da empresa, graças a uma profunda reestruturação que devolveu equilíbrio financeiro e operacional. Em recuperação judicial desde dezembro de 2014, o encerramento do processo foi decretado ontem por Marcelo Barbosa Sacramone, da 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo, a pedido de Osana Mendonça, sócia da KPMG Corporate Finance, nomeada como administradora judicial.
A receita para virar o jogo foi um plano com sete pilares que envolveu ações como implantação de controles rígidos, substituição de executivos, mudanças na comunicação com credores, funcionários, clientes, fornecedores e instituições financeiras. Segundo a companhia, houve uma redefinição do negócio principal, além de mudanças estruturais, melhoria nos processos de produção, vendas, logística, qualidade e controle efetivo do caixa, além da redução de custos.
“A empresa mudou radicalmente. Estamos com uma estrutura organizacional enxuta, cortamos gastos e estamos fazendo, progressivamente, tudo que é possível para tornar a operação mais eficiente e continuar elevando nosso nível de produtividade”, afirmou Fábio Mazzini, diretor de finanças, administração e relações com investidores da Mangels.
Ao mesmo tempo em que fortaleceu seu caixa, a Mangels implementou mudanças organizacionais para a recuperação de sua saúde financeira, reduzindo custos e melhorando o fluxo de caixa, com a implantação de um rígido controle de despesas e custos. O quadro de executivos passou de 52 para 25 cargos, medida que gerou grande economia e agilidade na tomada de decisões. Outro destaque foi a revisão de todos os contratos junto aos fornecedores de materiais e prestadores de serviços.
Na área industrial, a empresa aponta melhorias nos processos de produção, vendas e logística para diminuir custos sem afetar a qualidade do produto final. Segundo a companhia, houve uma mudança de cultura organizacional. A Mangels destaca ainda que mesmo em processo de recuperação judicial não interrompeu investimentos , como os R$ 45 milhões aplicados na aquisição de injetoras de alumínio, forno de tratamento térmico e implantação da sua primeira célula de usinagem robotizada.
O encerramento da recuperação judicial ocorre três meses depois de a Mangels ter aprovado o aditivo que alterou as condições de pagamento estabelecidas no plano inicial, homologado em dezembro de 2014. Para Mazzini, com novo modelo organizacional, estrutura enxuta e controle dos custos, a empresa inicia uma nova fase para retomar o crescimento.
Estratégia de recuperação.
Mazzini atribuiu o sucesso da conclusão do processo de recuperação a um rigoroso plano de enxugamento de custos e de aproximação a credores e clientes, que envolveu desde revisão de contratos à suspensão no corte do gramado nas fábricas.
A empresa brasileira que lidera a produção de rodas de alumínio e botijões de gás no Brasil decidiu manter o quadro efetivo na área de produção (que soma mais de 1,9 mil funcionários) e cortar cargos executivos, que diminuíram do total de 52 para 25. “Ficaram os mais antigos e os que gostam mais da Mangels”, disse Mazzini.
A empresa, diz ele, conseguiu manter o ritmo de produção de produção nas fábricas. A maior fica em Três Corações (MG), de onde saem as rodas e botijões. O presidente do conselho da companhia, Robert Mangels, está lá hoje e se encarregará de contar a boa notícia aos funcionários. Há, ainda, uma menor de aços relaminados, que atende principalmente à linha de motos da Honda.
O ritmo de produção não foi comprometido graças a um trabalho que envolveu vistas constantes aos principais clientes e fornecedores. O próprio diretor de finanças passou grande parte do tempo do processo de recuperação judicial em vistas periódicas às montadoras (quase todas clientes da Mangels) e credores para explicar o que a empresa estava fazendo para sanar a saúde financeira.
Os números eram apresentados ao final. A mensagem principal era falar sobre as ações. O sistema de segurança é um exemplo. A Mangels substituiu guardas armados por alarmes monitorados, o que levou a uma redução no gasto anual somente com esse tipo de segurança de R$ 1,5 milhão para R$ 300 mil.
Aos poucos a empresa também foi ganhando confiança dos fornecedores para reconquistar prazo para pagar matéria-prima. “No início, como acontece nas empresas em recuperação judicial, a mercadoria só era liberadas depois que o pagamento caía na conta do fornecedor”, destaca Mazzini.
Nesse período, a Mangels, no entanto, perdeu contratos de montadoras que, por orientação da matriz são impedidas de comprar de empresas em recuperação judicial. É o caso da Ford. Segundo Mazzini, a ideia agora é procurar esses antigos clientes para reativar contratos.
Segundo o executivo, entrar no processo antes de a crise se instalar na economia acabou por ajudar. “Entramos em crise antes”, destaca. Como só divulgará o balanço do quarto trimestre no fim do mês, a direção da Mangels não pode comentar sobre os resultados mais recentes.
Fonte – BVMI – Licio Melo – Marli Olmos/Valor
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