Setor automobilístico opera com metade de sua capacidade e terá um dos piores anos da história; mesmo assim, promete investir mais no País
Perto de fechar o ano com queda na produção superior ao esperado, vendas retrocedendo aos níveis de uma década e ociosidade recorde de mais de 50% nas fábricas, a indústria automobilística prepara novos investimentos no País. É um sinal, segundo as fabricantes, da confiança de que o mercado brasileiro voltará a crescer, ainda que demore.
No prazo de um mês, três montadoras, a MAN Latin America, a Toyota e a Volkswagen anunciaram projetos que vão consumir R$ 9,1 bilhões nos próximos cinco anos. “Novos anúncios devem ocorrer nos próximos meses”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.
Segundo ele, o setor aposta na melhora da economia e no retorno do crescimento das vendas de veículos, embora admita não saber “a velocidade exata” com que isso ocorrerá. “Além disso, com a concorrência no País, ninguém pode ficar parado”.
“O mercado deve começar a melhorar em 2017, com pequeno crescimento – de um dígito –, e voltará a crescer de forma mais importante a partir de 2018”, prevê o executivo. Para ele, uma expectativa de recuperação mais cedo está sendo barrada pela instabilidade política. Ele vê a reforma da Previdência e o corte de gastos públicos como medidas necessárias para o futuro econômico do País.
Segundo Megale, a produção esperada para este ano, de 2,3 milhões de veículos, será menor entre 100 mil a 150 mil unidades. É o volume que uma “associada”, diz ele, deve perder este ano por ter paralisado a produção por várias semanas em razão de desentendimento com um fornecedor. Trata-se da Volkswagen, que rompeu contrato com seu único fornecedor de estrutura de bancos.
No mês passado, a Volkswagen conseguiu recuperar parte da produção e o mercado interno teve leve aquecimento, o que resultou em produção de 213,3 mil veículos, o melhor resultado mensal desde agosto de 2015. No acumulado do ano, contudo, há uma queda de 14,6% ante igual período do ano passado, com 1,952 milhão de unidades, o menor volume para o período em 12 anos.
As vendas acumuladas estão 21,2% menores que em 2015, mas a Anfavea aposta em resultados melhores neste mês. Com isso, espera fechar o ano com queda total de 19%, ou cerca de 2 milhões de unidades, retrocedendo ao mercado de 2006.
As exportações seguem sendo o ponto positivo, com alta de 23,4% no volume deste ano. Outro dado animador foi a redução dos estoques, de 40 para 35 dias de vendas, mais próximo do que o setor considerada ideal, que é o equivalente a 30 dias de estoques.
O nível de emprego reduziu o ritmo de queda, pois a maioria das montadoras já fez ajustes profundos no quadro de funcionários. Só este ano foram fechadas 7,2 mil vagas e o setor emprega atualmente 123,3 mil pessoas.
Além disso, as montadoras têm 5,2 mil trabalhadores inscritos no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que reduz jornada e salários, e 2,2 mil em lay-off (contratos suspensos).
“Com os novos investimentos e possível volta de alguns turnos de trabalho que foram suspensos, a tendência é de abertura de novos postos de trabalho”, diz o presidente da Anfavea.
Férias coletivas
Em razão das várias paradas na produção ao longo de todo o ano, as tradicionais férias coletivas ou folgas dos funcionários das montadoras do ABC paulista serão mais curtas que em 2015.
A Volkswagen vai parar por 12 dias, ante 20 dias no ano passado, períodos próximos aos da Ford. A Scania, que em 2015 deu férias de um mês, agora dará 18 dias. Já a Mercedes-Benz terá parada similar à de 2015, de cerca de 20 dias, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Fonte – BVMI – Licio Melo – Cleide Silva/OESP