A indústria não tem tecnologia nem mão de obra qualificada porque sempre viveu de proteção e não de inovação. O foco atual não deveria ser a reindustrialização, objetivo inalcançável (e caro), mas políticas horizontais que beneficiassem todos os setores
O retorno do PT ao poder ressuscitou o sonho da reindustrialização. Uma análise serena do tema evitaria a repetição de erros cometidos no passado.
Todas as economias, ao longo de sua trajetória de desenvolvimento, passam por um processo de transformação (setorial) estrutural.
Inicialmente, a atividade econômica concentra-se na agricultura, que pode chegar a ocupar 80% da mão de obra.
Conforme os países ficam mais ricos e a produtividade no setor aumenta, serviços e principalmente manufaturas crescem em termos absolutos e proporcionais.
A indústria não tem tecnologia nem mão de obra qualificada porque sempre viveu de proteção e não de inovação.
O processo continua com o crescimento contínuo do setor de serviços, mas a indústria, em algum momento, vê sua participação no produto diminuir.
Isto é, as economias se desindustrializam. Em economias maduras, os serviços representam hoje algo em torno de 75 a 80% do produto, a agricultura apenas 1% a 3%, e a indústria o restante.
Nos Estados Unidos, o emprego no setor industrial hoje não passa de 15%.
Olhar para trás e dizer que, no passado, a indústria brasileira representava 30% do PIB, mas hoje é somente 15%, enxergando nisso um problema, não faz sentido.
Afinal, esse é o processo natural e inevitável de desenvolvimento setorial.
Há inúmeros fatores por trás desse fenômeno, entre eles, diferentes trajetórias de produtividade e inovação setorial e o fato de que, conforme países e indivíduos ficam mais ricos, a demanda por serviços – lazer, aplicativos, consultorias, etc – cresce mais rápido que a por bens industriais, e muito mais que por bens agrícolas. Isto é, a elasticidade-renda dos serviços é mais alta.
Pode-se pensar em políticas públicas que acelerariam ou atrasariam esse processo.
Por exemplo, políticas de proteção comercial, ao reservar o mercado local à produção doméstica, favorecem bens comercializáveis, notadamente manufaturas.
Assim, as políticas recentes dos governos petistas nessa direção deveriam ter legado uma indústria super dimensionada.
Entretanto, por terem sido mal concebidas e implementadas, não tiveram qualquer impacto permanente.
Incentivos à Zona Franca de Manaus, regimes especiais de tributação e créditos subsidiados do BNDES vão na mesma direção.
Dado o padrão recorrente e universal do processo de transformação estrutural, o impacto de políticas públicas é limitado e, na melhor das hipóteses, temporário.
Com o passar do tempo, todas as economias serão economias predominantemente de serviço.
Na visão de muitos que defendem políticas para o setor, haveria um fenômeno de “desindustrialização precoce”.
Não se nega a inevitável redução da importância relativa do setor no futuro, mas sim que em nosso país (e em outras economias emergentes) o pico da indústria – seu tamanho relativo máximo – estaria se dando a níveis de renda per capita muito abaixo daquele que se observou nos países hoje desenvolvidos.
Não há evidência estatística robusta sobre a relação entre o pico máximo de produto industrial e o nível de desenvolvimento, mas alguma evidência anedótica.
O economista Dani Rodrik, que escreveu sobre desindustrialização precoce, aponta que fatores tecnológicos e a globalização estariam por trás do processo.
Como a indústria hoje se sofisticou e exige mão de obra muito qualificada, países pobres com educação precária não conseguiriam ofertar esse tipo de trabalho em quantidade adequada.
A globalização e a competição de países como a China, acabariam por reforçar a desvantagem relativa dessas economias.
No caso do Brasil, fechar a economia já foi tentado e só nos prejudicou, isolando-nos das cadeias produtivas globais.
Educação e treinamento da mão de obra são ótimas ideias, mas seus frutos virão no longo prazo.
E os defensores da reindustrialização estão longe, como sempre estiveram, de defender seriamente políticas educacionais. Buscam ações com resultados mais imediatos.
Apesar das evidências históricas contrárias, o governo atual parece ter colocado a reindustrialização no centro de suas ações.
Não há ainda sinais claros de como serão essas políticas e como se buscará reverter uma inevitável mudança setorial.
Ouve-se que as políticas serão diferentes daquelas do passado, o que, se verdade for, já será um bom começo, pois elas foram caras e inúteis.
Somente o governo Lula teve três políticas industriais oficiais, mas nada foi alcançado no médio prazo.
No governo Dilma Rousseff, a Nova Matriz Econômica gastou bilhões, mas, além da dívida, não legou uma nova indústria maior e mais eficiente.
As histórias de fracassos são muito mais comuns que as de sucessos.
Mesmo que “desta vez seja diferente”, não vemos como mudar muito o quadro atual.
O Brasil não tem ainda tecnologia nem mão de obra qualificada para competir globalmente em dimensões relevantes, já que parte grande de sua indústria sempre viveu de proteção e não de inovação.
A alternativa de fechar a economia somente tornaria o país ainda menos produtivo e competitivo na escala global.
E apesar de existir hoje um debate bastante sofisticado, e argumentos mais racionais para políticas setoriais – que incluiria não só manufaturas, mas aqueles serviços em que teríamos vantagens comparativas -, nossos policy makers parecem continuar no passado.
Discute-se seriamente a volta da TJLP, além de políticas de subsídios que foram boas para os industriais, mas não para a indústria ou para o país.
O foco atual não deveria ser a reindustrialização, um objetivo inalcançável (e caro), e que não acelerará o desenvolvimento do país.
Mas sim políticas horizontais que beneficiassem todos os setores, mediante melhoria do ambiente de negócios e a redução de distorções alocativas, como a reforma tributária do consumo, mediante implantação do IVA.
Estas seriam complementadas por políticas de inovação, tecnológicas e educacionais focadas em aumento de produtividade, que reconhecessem que inovações em serviços têm sido o motor do crescimento em economias avançadas.
Repetir erros do passado, mesmo que utilizando uma linguagem moderna e nova, não gerará um acerto nem fará o Brasil crescer de forma sustentável.
Autoria:
- Pedro Cavalcanti Ferreira é professor da EPGE-FGV e diretor da FGV Crescimento e Desenvolvimento.
- Renato Fragelli Cardoso é professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE-FGV).
Fonte: Valor
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