‘China latino-americana’. Hoje o Brasil responde por dois terços do investimento feito no país, que, em três anos, ganhou 78 indústrias e 11 mil empregos
Enquanto o desemprego no Brasil se aproxima de 12% em meio a dois anos seguidos de encolhimento da economia, há indústrias brasileiras abrindo novas fábricas e criando milhares de novos empregos diretos. Esses investimentos, no entanto, são realizados no Paraguai, país que quer aproveitar a proximidade com o Brasil para ser uma plataforma de produção barata e livre de burocracia para o abastecimento do mercado de consumo brasileiro.
A estratégia de atrair investimentos e empregos ao abrir mão da cobrança de impostos tem dado resultado. A lei da maquila, que garante o pagamento de apenas 1% de tributo às companhias que abrirem fábricas no Paraguai e exportarem 100% da produção, existe desde 1997. Outras vantagens incluem gastos menores com mão de obra e energia elétrica.
O salto quantitativo desse programa, porém, se deu nos últimos três anos – justamente quando a economia brasileira começou a andar para trás.
Embora o total de empregos gerado pelas “maquiladoras” ainda seja pequeno em comparação ao tamanho da economia brasileira, o ritmo de migração de investimentos do Brasil para o Paraguai está em aceleração. Das 124 indústrias incluídas no programa de maquilas, 78 abriram as portas desde 2014. Dos 11,3 mil empregos gerados pelo programa, 6,7 mil são fruto dos investimentos dos últimos três anos. E existem mais projetos de expansão que devem gerar milhares de vagas em 2017.
A transformação do Paraguai em uma “China da América do Sul” é um projeto do presidente Horacio Cartes, no poder há três anos. A prioridade de Cartes – que também é um dos empresários paraguaios mais ricos – é gerar empregos para a mão de obra paraguaia. Mais de 70% da população de 6,8 milhões de habitantes tem menos de 30 anos e boa parte ainda atua na informalidade.
Aceleração.
Entre as empresas que estão usando o Paraguai para substituir importações chinesas está a Riachuelo. Foi a rede brasileira que viabilizou a Texcin, indústria montada pelo paraguaio Andrés Gwynn. Hoje, a fábrica emprega 400 pessoas e produz 300 mil peças ao mês. Mas o contrato de dez anos com a Riachuelo prevê que, dentro de um ano e meio, a produção seja elevada a 1 milhão de unidades. Com isso, os funcionários chegarão a 1,5 mil.
Gwynn conta que teve a ideia de atrair a Riachuelo ao Paraguai ao ver a foto do presidente da empresa, Flávio Rocha, em uma banca de revista no Aeroporto de Guarulhos. O empresário ligou para a secretária de Rocha e, após alguns dias de insistência, conseguiu uma reunião de cinco minutos para apresentar as vantagens do Paraguai. “Acabamos conversando o dia todo”, lembra Gwynn.
Indústrias que enfrentam forte concorrência de produtos baratos vindos da Ásia – como materiais plásticos, brinquedos e confecções – estão entre as mais propensas a aproveitar as vantagens da lei das maquilas. Uma das pioneiras do movimento foi a X-Plast, que fechou a unidade no interior de São Paulo e se instalou há três anos em Ciudad del Este, a 4 km da fronteira com Foz do Iguaçu. Procurada, a empresa não respondeu aos pedidos de entrevista.
As marcas brasileiras Bracol e Fujiwara, de sapatos para trabalhadores industriais, decidiram aproveitar as vantagens de custo do Paraguai em 2014. Elas são sócias de Andrés Gwynn na Marseg. A empresa chegou a ter 1,5 mil empregados. Com a crise no Brasil, que afetou em cheio a indústria, cortando mais de 30 mil empregos apenas em montadoras, a Marseg reduziu os funcionários para 800.
Autopeças.
As companhias internacionais de autopeças também estão migrando para o Paraguai. Entre essas companhias está a alemã Leoni, que produz chicotes elétricos.
O gerente da unidade da Leoni no Paraguai é o brasileiro Fábio Lopes da Silva. Ele conta que a maior parte da produção vai para montadoras instaladas no Brasil, onde a empresa mantém uma planta em Itu-SP, com 500 funcionários. Embora não haja planos para desativar a fábrica no Brasil, Silva diz que, com o tempo, a planta paraguaia se tornará mais importante. “Hoje, empregamos aqui 300 pessoas, mas o projeto é ampliar para mil colaboradores.”
Consultoria.
Desde a crise de 2008 a CityCorp, empresa que trabalha na gestão comercial para a indústria, desenvolveu um projeto de consultoria específico para o mercado paraguaio, o Projeto Paraguai. Lício Melo, que é CCO (Chief Commercial Officer) da empresa e coordenador deste projeto afirma que o maior erro dos empresários que desejam explorar os benefícios do regime paraguaio é que se o objetivo for limitado visando apenas os benefícios e questões tributárias existe um grande risco de frustração com os resultados finais alcançados.
Segundo ele a instalação de um parque fabril em outro País precisa estar acompanhada de expertise, dedicação total por parte dos decisores do negócio e o mais importante, a visão sistêmica de toda a estratégia comercial. O consultor deixa claro que o mais importante em todo o processo é a possibilidade da empresa brasileira estar preparada para atender todo o mercado global. Existem dezenas de mercados consumidores onde os produtos manufaturados no Paraguai passam a ser extremamente competitivos e focar apenas em fornecer para o mercado brasileiro é um erro que não deve ser cometido, pois limita a estratégia comercial da operação e ainda fica refém de um mercado extremamente volátil que é o Brasil, que na maioria dos casos não é o mercado que oferece a melhor rentabilidade de vendas.
De acordo com ele os clientes que contratam o projeto garantem toda a assessoria necessária para instalar seu parque fabril, trabalhamos com uma equipe completa em solo paraguaio e garantimos segurança total, desde a abertura fiscal, estratégia comercial, inteligência e análise de mercado, com disponibilidade de Infraestrutura imobiliária para todas as atividades.
Todos os edifícios disponíveis possuem qualidade de construção, rede de água para consumo, rede de água para combate de incêndio, rede elétrica dos parques industriais em media e baixa tensão, comunicação, pavimento, estacionamento, isto é, toda a infraestrutura necessária para que sua indústria esteja em operação o mais rápido possível, com todos os passos pautados pelo que é mais importante no meio industrial, confiança. Ele afirma que muitos empresários tentam fazer o caminho sozinhos, achando que com isso irão economizar, mas, na maioria das vezes o que conseguem é perder tempo e infelizmente muito dinheiro.
O consultor conclui confirmando que o Paraguai vem, ano a ano, solidificando-se como uma das economias mais confiáveis da América Latina. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2016. Para este ano, há mínima variação na projeção, com o indicador estimado em 3,6%. São números bastante eloquentes, sobretudo quando comparados ao PIB projetado pelo Fundo para outros países da região no biênio 2016-2017, como Brasil (-3,5% e 0,5%), Argentina (-1,8% e 2,7%), Chile (1,7% e 2,0%), Colômbia (2,2% e 2,7%) e Uruguai (0,1% e 1,2%).
Isso ocorre por causa da adoção de exitosas políticas fiscal e monetária, de um rigoroso controle da inflação e da aprovação de uma agenda de reformas que incluiu a modernização das legislações trabalhista e tributária.
Um dos mais eficazes instrumentos de atração de investimentos externos é a chamada Lei de Maquila, de 1997. A lei isenta do pagamento de imposto sobre remessas ao exterior todas as empresas estrangeiras que transferirem para o Paraguai as suas linhas de produção, exportando 100% dos bens produzidos no país. Estas empresas ficam obrigadas a recolher apenas 1% de imposto sobre o valor agregado (IVA). Os investidores contam ainda com a isenção do imposto sobre importação de bens de produção, o que permite a transferência de um parque industrial inteiro para o Paraguai sem a necessidade de reinvestimento em maquinário.
Além deste atrativo tributário, as empresas interessadas em investir no país são estimuladas pelos baixos custos de mão de obra e de energia elétrica. Sócio do Brasil na Usina de Itaipu, o país produz mais energia do que sua demanda interna, o que explica o baixo custo do insumo para as empresas.
O Brasil – que registrou número recorde de desempregados no final do ano passado, de 12,132 milhões de pessoas – já responde por dois terços dos investimentos estrangeiros naquele país, segundo o Foro Brasil-Paraguai.
Tamanha concentração de investimentos oriundos de uma economia ainda debilitada tem sido apontada pelo FMI como um possível risco à manutenção do crescimento paraguaio, não obstante a estrita observância aos fundamentos macroeconômicos no país. De fato, o volume de investimentos brasileiros no Paraguai em 2015 e 2016 manteve-se estável, na casa dos US$ 34 milhões. Muito longe, contudo, dos US$ 71,3 milhões investidos em 2014. Um claro reflexo da crise brasileira sobre a economia vizinha.
Fonte – BVMI – Leandro Munhoz – Fernando Scheller/OESP
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