Empresa estrangeira com maior investimento no Brasil, a Shell vai aportar US$ 10 bilhões no país nos próximos cinco anos. O dinheiro virá do orçamento de investimentos da anglo holandesa e não depende de captações.
O presidente mundial da companhia, Ben van Beurden disse que o valor refere-se a projetos dos quais a empresa já participa, entre eles os campos gigantes de Lula e Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Não estão considerados nesse orçamento eventuais participações em leilões em 2017 e nem investimentos na distribuição de combustíveis, já que a anglo-holandesa é sócia da Raízen junto com a Cosan. A Shell projeta fechar 2016 com investimentos de US$ 29 bilhões, volume que deve cair para cerca de US$ 25 bilhões em 2017.
Sobre novos projetos, o presidente da Shell Brasil, Andre Araújo, afirma que os planos vão depender de questões relacionadas a mudanças regulatórias como a definição sobre unitização de áreas já descobertas e cujas reservas extrapolam para campos adjacentes, ainda sob poder da União, assim como a regras de conteúdo local. A Shell é operadora de Gato do Mato, no pré-sal, que vai precisar de acordo de unitização e deve ir a leilão em 2017.
Ben van Beurden não descarta a participação neste e outros leilões programados para 2017. Afirma, entretanto, que para o Brasil, os atuais projetos são mais importantes porque, além do bônus obtido nos próximos leilões, os investimentos mais significativos em áreas a serem leiloadas virão em seis a oito anos.
“Os investimentos nos projetos existentes serão de US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. Virão de projetos que começamos junto com a Petrobras e outros sócios há anos. Precisamos nos concentrar no futuro, nos projetos previstos para a próxima década, mas também precisamos nos concentrar naquilo que estamos fazendo agora. Isso fará a diferença para o país muito mais que os próximo leilões”, disse.
Andre Araújo reforça que a Shell tem disponibilidade de recursos e quer investir no Brasil, mas diz que existem temas na agenda do país a serem definidos. Adiciona outro ponto importante para a indústria, que é a extensão do Repetro. Trata-se de regime especial que estabelece tratamento tributário diferenciado para plataformas importadas. “O caminho que o país quer trilhar vai ser importante para trazer investimentos da Shell e de outras companhias interessadas no país”, disse Araújo.
Nesse ponto o presidente global da Shell afirmou que os investimentos atualmente planejados consideram o arcabouço regulatório vigente. “Se esse ambiente tiver uma piora significativa, vai ser difícil seguir investindo no nível que eu acabei de mencionar. Também é importante observar que não estamos pedindo nada a mais ou nada melhor. Esse é o investimento que vai continuar sendo feito se for mantido o atual arcabouço legal e fiscal, com as regras da maneira que elas estão agora. Não estamos pedindo nada em troca”, frisou van Beurden, que também acha difícil prever o preço do petróleo.
Executivos da companhia, membros do conselho de administração e investidores participaram de apresentações sobre projetos da empresa no Brasil ontem em um hotel em Ipanema, zona sul do Rio. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, e a diretora de exploração e produção da estatal, Solange Guedes, fizeram apresentação reservada. Hoje os executivos da Shell visitaram o presidente Michel Temer em Brasília junto com investidores. É a terceira visita ao Planalto este ano. Ben van Beurden esteve com a então presidente Dilma Rousseff em 19 de janeiro, antes da conclusão da compra da BG, e com Temer em 28 de setembro.
Outro tema que inquieta a Shell é a encomenda da primeira plataforma para o campo de Libra, que foi objeto de um pedido de perdão da Petrobras para que o conteúdo local seja zero. Segundo Araújo, existem muitas atividades que a indústria local tem capacidade de fazer e por isso ele disse que não se trata de “uma discussão bipolar”.
Com o dia tomado por apresentações, Ben van Beurden foi cuidadoso ao comentar o resultado da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Holandês, o executivo disse que a Shell acompanha o processo eleitoral americano como o de todos os países, mas que “não é político nem diplomata” para ter uma opinião a respeito do tema.
“Somos homens de negócios e assim que ele assumir e montar seu gabinete nós vamos, assim como fizemos com outros, ficar felizes de trabalhar com aquele governo a nossa visão sobre o que eles devem fazer. No momento é tudo que posso dizer a respeito dessa eleição”, disse.
Sobre a saída da Inglaterra da Comunidade Europeia, van Beurden afirma que as preocupações no longo prazo dizem respeito a como o país vai lidar com o livre comércio de commodities e a movimentação de pessoas. A Shell adquiriu a BG e tem funcionários transitando entre Londres e Haia.
Fonte – BVMI – Licio Melo – Cláudia Schüffner/Valor
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