A multinacional suíça RUAG é a primeira companhia estrangeira a receber aval para se estabelecer no Brasil, numa abertura do mercado armamentista feita pelo atual governo. Outras indústrias, como a austríaca Glock e a checa CZ, estão em processo de negociação para aportarem no país já no próximo ano.
O aval foi dado pela Casa Civil da Presidência, que recebeu a atribuição de aprovar a vinda de empresas do setor para o Brasil. A tarefa, até o ano passado, era do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A instalação é deferida pela Casa Civil após parecer do Exército, elaborado em conjunto com a Defesa.
Com autorização do governo desde setembro passado, a RUAG se prepara para instalar uma fábrica de munições possivelmente em Pernambuco, estado do atual ministro da Defesa, Raul Jungmann.
De acordo com o especialista em vendas industriais Licio Melo a maioria dos funcionários da RUAG trabalham em instalações de produção na Suíça, Alemanha, Hungria, Suécia e Estados Unidos. A estratégia comercial da empresa envolve inúmeros offices espalhados por toda a Europa.
Esta política de proximidade com os clientes e a criação de parcerias estabelecidas há muito tempo resulta em novos produtos com alta qualidade, que também podem ser adaptados para ser exatamente o que o cliente deseja.
Ainda de acordo com Licio a RUAG mantém uma longa parceria com as forças armadas suíças, Bundeswehr alemão e outras forças armadas estrangeiras, organizações policiais, caçadores e atiradores esportivos e dezenas de parceiros industriais, fazendo com que a empresa esteja sempre na vanguarda de novas tecnologias produtivas.
Ele finaliza com a informação de que a multinacional suíça fechou o ano passado com um total de vendas líquidas de 385 milhões de francos suíços com um EBITDA de CHF 46 milhões e um total de 2.218 funcionários diretos.
Conforme informações do Exército, a abertura do mercado ocorreu por uma necessidade de ter competitividade e mais qualidade para as forças de segurança, que se queixam de poucas opções no mercado interno. A Glock é fornecedora antiga, por exemplo, da Polícia Federal.
Polícias militares se ressentem da dificuldade de obter autorização para comprar arma lá fora. Isso porque, segundo uma regra ainda em vigor, mas que poderá ser modificada em breve, só é possível importar armas se não houver uma similar na indústria nacional.
A chegada das empresas estrangeiras também atende a um pleito dos civis que têm posse ou porte de arma. A dificuldade de obter modelos de marcas internacionais é uma reclamação histórica por parte desse grupo.
O general Ivan Neiva, diretor do Departamento de Produtos Controlados do Exército, diz que há mecanismos “mais inteligentes” de proteger e incentivar a indústria nacional do que simplesmente fechar o mercado:
— Podemos pensar em margem de preferência para produtos nacionais, financiamento diferenciado, investimento em pesquisas — afirma o general. — Além disso, as empresas que vierem não poderão ser meras montadoras de produtos aqui. Elas terão que desenvolver fornecedores locais, gerar conhecimento, criar empregos.
Questionada sobre a chegada de empresas estrangeiras, a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições afirmou que “a concorrência não preocupa”, mas ressaltou a necessidade de “assegurar isonomia de tratamento, que atualmente não existe”.
“A carga tributária e as restrições sobre o produto nacional são muito superiores às do produto importado. A falta de isonomia prejudica a indústria nacional e gera desequilíbrio na concorrência, o que não é aceitável”, diz.
Fonte – BVMI – Camila Melo – Agência O GLOBO
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